25 outubro 2010

Comentários no post - O Avô Cantigas "A Cantiga do avô cantigas"

Num post anterior, O Blog Liker pergunta-me: Se eu nunca saio de "Cabisbaixo".
Blog Liker, muitas vezes, muitas vezes mesmo...
O Pinguim diz que eu saio muito enriquecido;...
Pinguim, saio todos os dias enriquecido e dou Graças a Deus pelo que tenho.

Mas, vamos por partes:

A) Eu começei a fazer voluntariado, por uma sugestão de uma amiga. A Flôr, que frequenta um centro esotérico e que está muito ligada a estas "coisas" metafisicas...
Ela afirma, que uma pessoa ao fazer voluntariado, isto é, que esteja a ajudar o outro e sem qualquer interesse em troca. "Ajuda" a limpar o nosso "Karma"...

Confesso que não sei, se limpo alguma coisa. A realidade, é que aceitei este desafio, ou seja, ter ido fazer voluntariado, por dois motivos:

1º Como já perdi a minha avó e a minha mãe. Talvez, isto explique qualquer coisa. A minha dedicação àqueles idosos. Todos eles poderiam ter sido os meus pais, avós e em alguns casos, mesmo bisavós.

Já diz o ditado: "Dá Deus nozes, a quem não tem dentes"

2º Sim, é verdade que eu acredito na vida depois da morte. A Re-encarnação, para mim é algo que é normal. Não me faz sentido, estarmos uma vida inteira a sofrer e a ter prazer, para depois acabar tudo.

B) Ao iniciar o voluntariado, começei a ganhar maior perpecção de que os "Ditados Velhos, são Envagelhos"

Nunca, podemos esquecer que os velhos(velhos são os trapos), não são criancinhas indefesas e que muitas nem chegaram a conhecer o mundo. Muito pelo contrário, são pessoas com muito conhecimento e cada um com a sua história de vida. Muitos, podem não ter a escolaridade obrigatória, mas TODOS tiveram a escola da vida.

São pessoas que nasceram, creceram, algumas casaram, outras não. Outras tiveram filhos, outras nem por isso. Outros tiveram netos e outros, também nem por isso...
Mas, TODOS eles, tiveram alegrias, tristezas, mágoas e todos tem a sua história para contar, para quem quiser ouvir...

Uns tem uma história real. Outros devido à sua doença, tem um parágrafo de um determinado momento da sua vida ou de um parágrafo de um livro.

A realidade, é que todos eles tem esta noção: - Sou como um pássaro fechado numa gaiola. Como, bebo, durmo, vejo o mundo por uma janela, canto a minha dor e espero assim a minha morte.

Alguns sentem que as suas "asas" ainda os poderiam ajudar a voar livremente. Mas, a realidade é mais cruel. Estão presos numa cadeira de rodas, a cabeça só funciona por um excasso momento, ou ainda o familiar não permite a sua saída...

Neste lar estão internados cerca de 45 idosos, mais 14 idosos que usam o centro de dia. No fundo, estão lá das 9h às 17h30 e depois vão dormir a casa. Para não passarem o dia sozinhos em casa, vão até lá e recebem um pouco de atenção.
Este pouco de atenção, pode ser dois minutos de conversa, para o idoso ficar feliz o dia todo.

Quando estou no Call Center e oiço pessoas a comentar que não sabem o que fazer num Sábado à tarde, que ficaram horas à espera de um telefonema...
Se soubessem, o quanto poderiam ser úteis, nesses minutos...

Há uns tempos atrás, o Blog Liker fez um post interessante acerca de comprimidos para as depressões. Muito interessante mesmo...

A verdade é que eu perdi a minha mãe, emprego e um relacionamento de alguma duração. Creio que cada item, dava para ter uma depressão. Não sei se a tive. Mas, se a tive, nem eu, nem ninguém deu por isso...

No lar, está internado o senhor Mário. O senhor Mário tem 82 anos e está sempre com um sorriso nos lábios e a contar anedotas. Cada uma mais picante que a outra. Mas, todas muito engraçadas. Está perfeito da cabeça, tem a noção de toda a realidade à sua volta. Não precisa de cadeiras de rodas, nem de muletas, e tem uma mobilidade muito boa, para os seus 82 anos.

Devem estar todos a perguntar, como um dia eu lhe perguntei: - O que está a fazer esse senhor no lar?

Senhor Mário: - Meu filho, melhor meu neto. Tenho um cancro maligno na cabeça. Já fui operado por diversas vezes. É uma questão de tempo. Está a ver este vermelho todo em volta do pescoço? É cancro da pele e dá cá uma comichão. Tomo um comprimido para a quimioterapia todos os dias. Mas o mais lixado , disto tudo são os meus ouvidos. São cá umas dores de ouvidos...
Mas, não são tão fortes, como quando estava em casa. Casei e tive seis filhas. Porra que galinheiro. Nunca te cases. Vai por mim. Eu casei as todas e quando pensei que iria ter paz. Voltaram as 6, mas divorciadas e com encomendas...

O senhor Mário, acorda de manhã. Faz a sua higiéne pessoal sozinho. Desce para tomar o pequeno-almoço e depois vai fazer a sua oração à capela. Na sala, joga cartas, xadrez, damas, dominó. Adora falar da sua infância numa aldeia perto de Viseu, da guerra do ultramar, a dificuldade de criar 6 filhas...

Reflexão: Estou bem, tenho cancro. Não é ele que me vai deitar abaixo. Só estou à espera de poder ir comprar uma cabeça nova ao "continente"

Quando, acho que tenho um problema. O que são os meus problemas ao lado dos problemas dos tantos Mários e Marias deste país?

4 comentários:

João Roque disse...

"Muito triste estava por não ter sapatos, mas alegrei-me ao encontrar um homem sem pés"...

Francisco disse...

Uma expressão muito utilizada pela minha avó...

Obrigado pela tua visita

Forte Abraço

Blog Liker disse...

Continuo a aprender, no sentido lato do termo, com as tuas histórias. Obrigado por as partilhares.

Quanto ao resto, gostava de ser menos céptico e mais crente... Admito...

Um abraço!

Francisco disse...

Obrigado eu, pela tua visita ao meu espaço =)

Abraço