25 julho 2010

Bruno - Whigfield "Sexy Eyes"

No blog anterior, eu faço referência aos meus ex-namorados. O Bruno nunca foi meu namorado. Mas é alguém que eu recordo com carinho, mesmo depois destes anos todos. Se eu tiver que "pagar alguma coisa" nesta vida. Certamente que com esta relação, mesmo de poucos meses, eu subi alguns degraus para o céu...

Eu sei que presunção e água benta, cada um toma a que quer...

Mas, depois se quiserem dar a vossa opinião. Estejam à vontade, para comentarem sempre que assim o entenderem...

Eu conheci o Bruno no jantar de Natal de empresa em 1999. Trabalhávamos na mesma empresa, mas em departamentos diferentes. Nunca nos tinhamos cruzado nos corredores ou nas casas de banho. Lol

Na mesa, ele ficou à minha frente mas duas cadeiras à minha direita. De vez enquando sentia me observado pelo moço e de facto, sempre que desviava o meu olhar na sua direcção, ele estava a olhar para mim.

Os lugares foram escolhidos de forma as pessoas dos diversos departamentos serem "obrigadas" a interagir e a falar com pessoas de outros departamentos. À minha frente ficou uma colega do departamento do Bruno, à minha esquerda uma colega do departamaneto financeiro e do meu lado direito, um colega do departamento comercial.

Mais tarde, soube que essa colega e o Bruno tinham comentado a minha forma de como eu pegava nos talheres e como os coloquei no final.

E, que eu tinha esperado que ela tivesse terminado e cruzasse os talheres, para no final eu fazer o mesmo,(Um senhor espera sempre que a senhora termine primeiro).

O jantar terminou, para depois começaram os discursos de Feliz Natal e um Própero ano 2000. As lenga-lengas do costume...

Depois veio a musica e a ida ao bar buscar bebidas...

A noite começou a ter outro encanto com esta musica: "Whigfield - Sexy Eyes".

Começamos a cantar um para o outro e a dançar separados com o copo na mão. Até que ele me dá um abraço, leva-me ao bar para irmos buscar mais um whisky e depois vamos os dois para a casa de banho. Beijámo-nos loucamente e demos uma queca ali mesmo.
Às vezes batiam na porta, para ver se estavam ocupadas. Ao sairmos juntos, estavam lá mais três colegas com excesso de alcóol, e o Bruno diz: - Foda-se, já não se pode fumar uma ganza em paz...

Acordei de manhã, na cama do Bruno. Ele tinha comprado casa no Príncipe Real com uma vista soberba para o rio Tejo.

Em casa, comecei a inventar aos meus pais montes de trabalho e projectos. De forma que saía mais tarde e por isso ficava a dormir em Lisboa, em casa de um colega. Pois estavamos no mesmo projecto e era mais fácil, etc etc...
Os fins de semana eram a trabalhar, quando na realidade iamos para a costa vicentina, Évora, Óbidos, Castelo de vide, etc etc...

Um dia de manhã, ao chegar à empresa, vou ao departamento dele e vejo ele muito calado. Parecia que o mundo tinha acabado e ninguém tinha dado por isso.
Nessa noite tinha ido dormir a casa dos meus pais, e pensei que não fosse nada de especial. Enviei-lhe um mail para irmos almoçar às docas, para ver se ele falava e se distraia com o rio...

Sentámo-nos numa esplanada nas docas, assim que nos sentamos, as lágrimas começam a escorrer-lhe pelo rosto abaixo...

Levanto-me, vou até ele e abraço com toda as minhas forças e perguntei-lhe:

Francisco: - Que tens lindo?

Bruno: - Sou seropositivo...

Francisco: - Como assim?

Bruno: - Só podes ter sido tu a pegar-me esta merda. Eu sempre fui super cuidadoso. E naquela noite, não usámos preservativo e vieste-te dentro de mim...

O meu mundo tinha acabado ali. Sentei-me e já nem me lembro do que falámos a seguir e tão pouco do que almoçamos.

No final do dia, ao sair da empresa, fomos para casa dele. Todo o caminho, sempre a mesma ladainha. Tu é que me pegaste esta merda...

Combinámos ir os dois fazer as análises ao Crentro de Atendimento Permanente da Estrela.

Passei essa noite inteira sem dormir. É verdade que o Alexandre se veio dentro de mim, foi com ele que tinha feito sexo sem protecção. Eu e o Bruno com 29 anos e já com uma bomba dentro de nós, que poderia explodir a qualquer momento.

No dia seguinte, vamos ao C.A.P da Estrela e cada um vai para uma sala com uma psicóloga diferente. Assim que entro:

Psicóloga: - Então, o que o traz por cá?

Francisco: - O meu companheiro soube que é seropositivo. Diz que a culpa é minha, que fui que o matei lentamente. A minha vida acabou. Se na empresa sabem que eu sou seroposito. Sou despedido...

Psicóloga: - Lá, porque o seu companheiro é seropositivo, não quer dizer que o Francisco o seja.

Levantei-me e fui para a outra sala, tirar sangue. A minha vida tinha acabado e não fazia a menor ideia do que iria fazer. E também com a agravante de ter contaminado o Bruno, que era a pessoa que eu amava...

A semana passou lentamente, todos os dias, todas as horas, sempre a mesma ladainha. Tu é que me pegaste esta merda...
Até que chegou o dia de voltar ao CAP para saber o resultado. Assim que entro na sala:

Psicóloga: - Bom dia Francisco! Como estão as coisas?

Francisco: - Mal, eu adoro o meu companheiro. Para mim a vida acabou. Onde posso ir buscar ajuda? Se ele está infectado, eu também estou certamente e a culpa foi minha.

Psicóloga: - Abra, mas antes responda-me. Se der negativo acaba com o seu companheiro?

Francisco: - Nada disso, eu amo-o e quero ficar com ele. Apesar de tudo o que ele me tem dito nestes ultimos dias...

Abro o resultado, nem posso acreditar no que está lá escrito: - Negativo

Saio do consultório, quando chego à sala de espera, reparo que o Bruno já lá está e que teve a confirmação de o resultado dele é mesmo positivo. Atiro o meu resultado para cima dele e sigo caminho em direcção ao carro. Não falámos o caminho todo até casa. Detesto ser acusado de algo injustamente e a responsabilidade de morte de alguém não era minha, seguramente. Em casa, fui ver televisão e o silêncio entre nós, manteve-se mesmo durante o jantar. Quando me deitei, é que:

Bruno: - Francisco! Que queres fazer? Acabar?

Francisco: - És mesmo tonto, eu gosto de ti. Se tivesses cancro, durarias menos tempo, assim ainda poderemos casar um dia e sermos muito felizes.

Beijámo-nos loucamente e fizemos amor naquela noite. Os dias eram de uma enorme cumplicidade. Em jantares de amigos, eu fazia questão de bebermos um do copo do outro com brindes e outras bebidas. Em casa só não usávamos a mesma gilete ou escova de dentes. Tanta vezes que me dei a usar os corta-unhas em conjunto e tesoura para cortar alguns pelos de foro pessoal. Creio que tudo isto, nos fez aproximar mais um do outro, e os dois termos uma cumplicidade bastante grande. Ele começou a fazer tratamentos no Hospital Curry Cabral e por vezes não tinha tempo de ir à farmácia do hospital buscar os medicamentos. Lá ia eu buscar-lhe os medicamentos.

Um dia estava um calor do caneco, uma fila enorme e montes de gays "conhecidos", todos para o mesmo fim...
Quando chega a minha vez de ser atendido, aparece-me uma médica toda mal disposta, pega na receita e depois de analisar, diz:

Médica: - Como está a correr os tratamentos? Que sintomas sente?

Francisco: - Desculpe, mas essa resposta, só a poderei dar da próxima vez, não sou eu ...

Médica: - Todos dizem o mesmo, é sempre para os outros...

Francisco: - Aqui tem o meu bilhete de identidade, eu por acaso chamo-me Bruno Silva?
O Bruno Silva é o meu companheiro.

As lágrimas começam a escorrer e a senhora chama-me à parte e com um ar super maternal, que eu nunca irei esquecer, diz:

Médica: - Peço imensa desculpa, mas nem os pais querem saber dos medicamentos para os filhos. Ninguém aparece para vir buscar os medicamentos dos acamados, só mesmo os próprios. E, aqui tenho eu, um menino de ouro à minha frente. Que sejam muitos felizes.

Semanas mais tarde, o Bruno entrou em depressão e ficou de baixa médica, vendeu a casa de lisboa e foi viver para o alentejo para casa de uma avó. Iamos falando regularmente até que um dia, recebo um sms: - Desculpa Francisco ser assim. Mas está tudo acabado entre nós. Sê Feliz...

Mito Urbano:
1º Não se apanha HIV por abraços, pelo o toque, pelo o suor, pela a palavra amiga...
2º Nem todos foram contaminados por andarem na "Putice";
3º Existem doenças bem piores e que são mais bem aceites pela sociedade...

3 comentários:

João Roque disse...

Lição de vida...

Francisco disse...

E que lição de vida...

O meu Bem haja pelos teus comentários.

Forte Abraço

bruno disse...

gostei do q li!